ANIMISMO E MISTIFICAÇÃO
Existem médiuns que habitualmente se
incorporam ou detectam pela vidência ou audição, espíritos de pessoas famosas,
recém-desencarnadas, ou daquelas de que a imprensa trata com mais intensidade.
Outros “recebem” entidades das mais conhecidas e amadas nos meios espíritas, e
assim por diante.
Até que ponto pode-se ter certeza de
que tais ocorrências são anímicas, ou mesmo, mistificações?
Há muitos tipos de animismo, desde
aqueles nos quais a comunicação parte da mente do próprio médium; que repete
clichês existentes em seu inconsciente; que revive situações de suas vidas
passadas, até aqueles outros nos quais insere o próprio pensamento ou
personalidade na comunicação de espíritos.
Pode-se mesmo dizer que em toda
comunicação mediúnica há maior ou menor grau de animismo. O espírito, para
comunicar-se, utiliza-se da mente do medianeiro, com todos os seus componentes
psíquicos, seus potenciais, seus conhecimentos. Isto porque ele não é um mero
aparelho, como erroneamente muitos o denominam.
Inúmeros companheiros criticam
acerbamente alguns trabalhos ou grupos, cujos médiuns seriam anímicos,
obsidiados ou mistificadores, porque as suas incorporações repetem sempre os mesmos
estilos. Num dos que frequentei havia uma médium que ao incorporar algum
sofredor, invariavelmente começava assim: “Ai, meu Deus, onde é que eu
estou?...” E seguia lamentando suas dores e aflições, apresentando sempre
situações mais ou menos semelhantes. Outra médium quando recebia um obsessor,
este chegava valente, agressivo, cheio de ódio e revolta ou então zombeteiro,
quando não, fazendo-se de bêbado e pedindo mais bebida, mas com alguns minutos
de doutrinação ia logo dizendo: “Eu já entendi tudo, graças a Deus. Que Deus
ilumine vocês cada vez mais e mais, para que possam continuar neste trabalho de
luz... etc.”
Analisando estes dois casos podemos ver
no primeiro a emoção do espírito atuando sobre o animismo da médium, ou ainda,
a manifestação de seu próprio inconsciente, usando clichês sempre repetidos,
talvez trazendo à tona algum ponto traumático de sua vida atual ou passada.
Podia também tratar-se de um espírito
mistificador fazendo-se passar por quem não era. Dificilmente se trataria de
mistificação da própria médium, criatura humilde, que nada indicava poder assim
agir. Creio que todos do grupo pensavam dessa forma, porque nunca lhe foi
demonstrada qualquer crítica ou rejeição. Certamente todos também vibrávamos
com muito amor direcionado a ela durante as suas comunicações, porque sabíamos
que essa boa vibração não se perderia. Seria sempre bem aproveitada de uma ou
de outra maneira.
Já o outro caso sinaliza mais para a
presença de um mistificador do que para animismo.
É até possível que algum espírito
obsessor decida-se a mudar de vida apenas com uma curta doutrinação de alguns
minutos, porque a vibração que lhe é dirigida na elevada frequência do amor,
pode realmente levá-lo a perceber melhor sua situação e decidir-se a mudar de
rumo.
Mas a repetição contínua de resultados
semelhantes indica claramente que ali está um zombeteiro fazendo-se passar pelo
que não é. Mesmo porque, quando um obsessor empedernido na prática do mal
resolve mudar de vida, não começa logo por um discurso parecido com o de
espíritos mais evoluídos. Ele pode até emocionar-se, e muito, pela ajuda que
ali recebeu, pelo novo caminho de esperança que se abriu diante dele e até
mesmo pelo alívio do perdão que concedeu a seu inimigo. Pode mostrar-se grato,
mas reconhecendo sempre sua condição de inferioridade espiritual com relação
aos demais. Muitas vezes esses espíritos prometem voltar para de alguma forma
ajudar seus benfeitores, pela gratidão que sentem, mas jamais iriam proceder
como alguém com prerrogativas para invocar bênçãos.
Em qualquer caso é importante observar
que cada grupo tem um direcionamento próprio e não é bom qualquer dos presentes
ficar analisando isto ou aquilo, com espírito de crítica. Isto só faz cair sua
freqüência vibratória, desarmonizando o ambiente. Além disso, ele se transforma
num instrumento inútil para o trabalho, quando não, em presença francamente
negativa. Em vez de criticar, deve fazer a sua parte, dar o melhor de si em
qualquer situação, tanto em pôr-se à disposição, desenvolvendo vibrações de
amor, quanto em boa vontade, tolerância e compreensão.
Igualmente, é muito importante estar-se
sempre atento para a possibilidade de estar sofrendo assédio de obsessores, que
gostam de levar discórdia para os corações dos trabalhadores da área mediúnica
e por esse caminho para os grupos que frequentam. Também é importante observar
se em seu espírito de crítica não estará vendo o que não existe, ou aumentando
aquilo que há. Lembrar que a compreensão e a tolerância são virtudes
imprescindíveis em qualquer atividade espírita, principalmente nas mediúnicas,
procurando ter sempre em mente aquelas palavras de Jesus: “Bem-aventurados os
limpos de coração, porque verão a Deus”.
"Extraído
do livro “Mergulho no Invisível”.